sábado, 14 de março de 2009

o que será que o gato sonha quando dorme?
o gato sonha quando dorme?
com seus olhinhos semi-abertos
pra onde será que ele vai?
será que ele vai?
será que ele sonha com outros gatos
outras vidas matos patos
outros atos ratos
enquanto respira ronrona
silencioso & belo
desconectado porém atento
unido ao universo
somente pelo fio do alento?

sábado, 8 de novembro de 2008

quando osso chegou em casa, théo tinha pouco mais de seis meses. como cada indivíduo possui sua própria forma de inserção no tempo, a deles era muito próxima, criando uma identificação imediata entre os dois, manifestações duma mesma energia em espécies diferentes. é prazeroso ver a relação de amizade que se desenvolve(u) entre eles.
ao contrário de chico e seu jeito acanhado e mais auto-suficiente, osso é intrometido, folgado e carente. quando viu uma minipessoa chegando no seu ambiente foi rapidamente ver que que era aquilo, saber o que estava acontecendo.

- é a menor pessoa que já vi. é proporcionalmente pequeno como eu! combino muito mais com ele do que com vocês.

e por horas brincaram um divertido jogo de (auto)reconhecimento. osso dava pulinhos em cima de theo que puxava o rabo de osso que dava mordidinhas nos pés de theo enquanto theo, no início do seu aprendizado motor, na tentativa de fazer carinho dava tapas no pequeno ossinho.

os meses foram passando, ambos crescendo analogamente, se descobrindo, cada vez mais cúmplices e parecidos. enquanto osso, exercendo sua gatunice com supremacia, pegava coisas maiores que sua cabeça com seus dentes e sorrateiramente saia do ambiente, theo cambaleava pela casa, aprendendo a andar e tirar as coisas do lugar.
o objeto que chamava a atenção de um também o fazia no outro. o brinquedo favorito do dia de théo era o mesmo com o qual osso mais se divertia. se um estava quieto, dormindo, o outro vinha pentelhar. théo não podia ver osso dormindo no sofá que saia cambaleante & sorridente pra puxar seu rabo. se osso visse théo nanando no quarto, deitava a seu lado e ficava dando mordidinhas em suas pernas, até um dormir ou o outro acordar.

e assim dividiam a minha cama, cansados & sinceros como velhos corações.


osso & théo após discutirem uma complexa questão filosófica

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

eles mijam em todas as almofadas, no sofá, tapetes, na nossa roupa jogada pelo quarto, em todos os lugares da casa. ficamos bravos, gritamos, brigamos e até batemos. eles continuam deixando aquele odor forte de urina por todos os cantos, sem o mínimo de respeito. nos cestos de roupa suja, dentro dos armários, em todos os lugares, imagináveis ou não.
eles invadem nossos quartos enquanto estamos dormindo, sobem em nossas camas, nos nossos peitos, caminham lentamente em direção à nossa cabeça, começam a farejar, a ronronar, vão se ajeitando e quando menos se espera cravam seus pequeninos e afiadíssimos dentes diretamente no nosso pescoço.
dói, dói muito.
mas diante disso, tudo que aconteceu antes, torna-se banal.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

um gato nunca é como o outro. nem poderiam, já que são seres, universos diferentes. as pessoas, animais ao seu redor, o espaço geofísico, clima e outras variáveis influenciam muito na personalidade dos felinos (e creio que de quaisquer outros seres vivos).
porém uma coisa comum a todos os gatos, algo inseparável da essência felina, é a tal da curiosidade. tanto que temos aquele velho ditado "a curiosidade matou o gato". por sorte nunca tive um que morreu por ser curioso, mas se existe o ditado algum fundo de verdade isso deve ter.
eles param, esticam seus pescoços, farejam, farejam, movendo graciosamente seus grandes bigodes pra frente e pra trás. entram em caixas, gavetas, roupas, armários e onde mais puderem. onde não podem também, principalmente. enfiam o focinho em tudo que lhes parece novo e interessante, sem dó ou preconceito.
pensando nisso fiz um vídeo em homenagem à curiosidade felina, protogonizado pelo querido Osso.



"Curiosso" está licenciado em Creative Commons, ou seja, pode ser livremente utilizado desde que para fins não lucrativos, citando o autor e mantendo essa mesma licença.
o material bruto de video e audio pode ser encontrado para download no site Archive.
sintam-se à vontade para criar e compartilhar!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

desde muito pequeno lembro de me relacionar com gatos. fígara era o nome da primeira gata da qual me lembro. eu devia ter cerca de dois anos, no máximo. pelo que me lembro foi uma estória meio estranha, algo como ouvi um barulho na garagem após a saída do leiteiro. a moça-que-tomava-conta-de-mim disse que era um cachorro. fomos ver e era um gato. óbvio que era um gato, foi um miado e não um latido que chamara minha atenção. aqueles ouvidos muito provavelmente nunca haviam escutado um miado antes. mas a essência que habitava aquele (este) corpo certamente já e, escutar sabeselá quanto tempo humano — dias, meses, anos, eras, horas — depois, aquele som único e inconfundível ativou algo até então adormecido dentro daquele pequeno eu que eu fora um dia, naquele momento. eu devia estar de camiseta, cueca e sandálias quanto a moça-que-tomava-conta-de-mim pegou o filhote e o trouxe para perto de mim. a partir deste momento não me lembro de mais nada desta sequência. só sei que fígara cuidou de mim até aos dez anos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

li certa vez, quando pesquisava sobre feng shui, que o banheiro é um dos lugares de maior concentração energética da casa. não me lembro da justificativa, mas pensando agora me ocorre o seguinte: no banheiro tomamos banho; no banho deixamos para trás uma camada de memórias & secreções, tudo aquilo que acumulamos durante o dia, durante a noite. de alguma forma isso pode ser considerado uma troca energética, uma descarga. inclusive, o texto falava algo sobre a privada, esta como um buraco negro que absorve tudo ao seu redor, devendo por isso mesmo ser mantida de tampa abaixada para barrar esse vampiro sanitário.
dizem também que os gatos são animais muito sensitivos. será por isso que osso gosta tanto de ficar no banheiro? parece que quanto mais sujo mais ele se diverte ao rolar no tapete, deitar no ralo. tenho o hábito de, sempre que possível, evitar acender as luzes dos lugares. vezoutra, no meio da noite, vou ao banheiro e me deparo com ele lá, parado, naquela posição típica de descanso dos felinos que sempre me remete a um frango. nessas ocasiões costumo brincar com ele, chamando-o de “ossobobo-do-banheiro”.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

quando osso chegou na casa de chico pela primeira vez, chico o viu e já saiu correndo. osso nem pensou e institivamente correu atrás. era sempre assim: osso ficava indo atrás de chico, lpuando, mordendo, sem parar um segundo. chico lhe dava uns chegapralás, pois apesar de medroso era maior e mais velho. corria e se refugiava num lugar mais calmo. mas osso não parava, tinha muita energia, era incrível. ficaram cerca de 20 horas nesse ritmo, sem intervalos maiores que 37 segundos. dizem que foi uma coisa incrível. no dia seguinte dormiram juntos o dia inteiro. no outro, voltamos e o resgatamos com um machucado, fruto das brincadeiras. dias depois o machucado apenas piorara. surgiram outros. durante aqueles dias, chico tivera com um indício de sarna.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

eles já tinham se encontrado uma vez, quando chico veio nos visitar. logo de início começou a bagunça. osso se jogava em cima de chico, se mordiam, arranhavam, miavam, faziam um escarcéu. pareciam um furacão pela casa, cruzando salas, quartos, banheiros, todos ambientes possíveis. no início pensaram que era briga, os gatos deveriam ficar em cômodos separados. insisti que não, era apenas o modo deles se divertirem. desde que foram tiados de suas mães não tinham tido contato algum com outro gato. insisti nisso, apesar de achar que existia a possibilidade de algum deles sair machucado. mas tudo bem, eles que são gatos que se entendam.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

quando ainda um gatinho, fomos todos viajar e deixamos osso na casa de seu amigo chico. chico é cerca de um mês mais velho, possui maior porte físico, longos pêlos PB que lhe dão um ar malhado. é calmo, quieto, gosta de ficar de boa no seu canto sem muito movimento. é assustado, chega a ser medroso. mija (quase sempre) no lugar certo, naquela triste caixinha com areia comprada em supermercados. osso também é e faz tudo isso, só que ao contrário.


chico-in-the-box

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

osso nos foi trazido com pouco mais de um mês de vida, pouco menos de um palmo de tamanho. era uma coisinha pequena, frágil, chorosa & branca. bati meus olhos nos dele e não teve jeito: sabíamos que era amor. tornou-se naquele momento. e até hoje tem sido assim, comigo e com todos que o conhecem.
gatos são similares ao humanos em muitos aspectos: são temperamentais. escolhem suas companhias. são mais evoluídos que a maioria dos humanos em outros tantos: conectam-se facilmente ao corpos mais sutis existentes no ambiente. sabem aparecer e sumir sempre na hora certa. dividem seu sono ao longo do dia, por isso estão sempre dormindo, mas nunca por muito tempo. claro que alguns fogem a essa regras e, mesmo sem estar doentes (pois muito sono quase sempre indica que algo está errado), passam horas e horas seguidas num sono profundo, imóveis. basta qualquer mínimo som ou movimento fora do convencional para que despertem em prontidão. osso é um desses.



osso em seu momento mondrian

domingo, 5 de outubro de 2008

os felinos são os mais belos seres que caminham sobre a terra. ágeis, elegantes & auto-suficientes. dentre as variadas espécies de felinos, o gato doméstico combina isso ao carinho e companheirismo. as pessoas que dizem que os gatos são “interesseiros e esnobes” geralmente são pessoas carentes que nunca conviveram com um gato e/ou estão acostumados a cachorros babões & bobos, que tomam tapas no focinho e continuam sorrindo e babando. quem em algum momento da vida entra em contato com um gato jamais deixa de gostar deles.